terça-feira, 10 de junho de 2008

Estrela Lia

        Pequenina, pequenina, a menina dizia-se não ser. Era tudo simples, ela não era.
        Para si, a existência era não ser nada, e ser tudo. Era ser a magia de uma história.
E tudo começa quando um dia, num sítio muito longe, de onde vêm as estrelas, o senhor que as fazia, deixou cair sobre uma das suas filhas a poção mágica. Era a mais pequena, tinha nascido há poucos dias. A poção dava às estrelas a capacidade de viver na eternidade do céu, que é como quem diz, viver no tudo, assim de uma forma “para sempre”…
        A menina foi crescendo, ganhando hábitos diferentes. A ligação dela às estrelas separava-se pela terra grande. Os pais chamavam-na Lia, mas ela não gostava...
       -Não me chamo isso! Já disse! – dizia em tom irritado.
       Nada havia a fazer, Lia queria ser nada, e tudo.
       Falava muito com as flores.
      -Eu sou também uma flor sabiam? – dizia ela às flores do seu quintal sussurrando.
      E querem saber um segredo? As flores respondiam-lhe. Falavam mesmo com Lia.
    Todos a achavam louca, mas na verdade, Lia era uma estrela do céu, incompleta e incompreendida, porque Lia tinha na ponta dos dedos magia. Bastava fechar os olhos e desejar com uma força grande, para que as coisas à sua volta ganhassem a magia e pudessem conversar com ela.
      Lia sentia que não pertencia àquele mundo, e a mãe chorava muito à noite. Pedia ao Senhor da Magia que lhe desse a sua filhinha, pedia que Lia não quisesse ir embora para as estrelas e que deixasse de ser louca, por falar com tudo. Na escola, não tinha amigos. Ninguém gostava de Lia, porque ela dizia não ser nem Lia nem ninguém.
       -Lia, podes dizer-me que letra vem depois do C? – perguntou-lhe um dia a professora.
       -O meu nome não é Lia, professora… - disse Lia em tom entristecido.
       -Então qual é?
       -É nada, professora, eu sou nada, e sou tudo. Se vir lá fora nas flores, eu sou elas, e à noite, eu sou do infinito para sempre…
       Lia explicava imensas vezes isto a quem a chamava assim. Até que um dia o pai de Lia se cansou de ter uma filha ninguém… O pai levou Lia para a casita fechada há muito, muito tempo, e mostrou-lhe todas as ferramentas e poções mágicas. Começou…
      -Sabes filha, tu na verdade, não és nada. Tu és uma estrela onde falta um pouco de magia e luz. Quando nasceste eu trazia-te para aqui. Eu era fabricador de estrelas, e quando ia a deitar o pó a uma estrela, entrou um pássaro pela janela que me assustou, e acabei por deixar cair o pó sobre ti. Desde então que tu vives no infinito de para sempre. Mas se tu quiseres, eu deixo-te ir esta noite como estrela. Derramo sobre ti os pós e a luz, e tu vais ser o que és na verdade.
Lia escutava maravilhada, de lágrima ao canto do olho.
      -Sim, papá. Eu quero ser estrela!
     E nessa noite, Lia, sentada sobre a bancada empoeirada, recebeu sobre os cabelos os pós mágicos, depois a luz.
      E minutos depois, está ali, no céu, a estrela muito brilhante, vês? A estrela Lia.

10 comentários:

Coragem disse...

Consegui ler a tua estrela, de pó e palavras mágicas sobre o cabelo...


Eu bem disse, que havias de tratar as estrelas por "tu"

Beijinho Sónia

sonhos disse...

Olá Sonia

parabéns pelo blog, é maravilhoso adorei

Bjs

Patti disse...

Que sensibilidade para os pormenores! Parabéns.

De dentro pra fora disse...

Como é belo o poder da magia,
é dela que fazes nascer os teus contos.. :)) só pode..

Sunshine disse...

As tuas palavras estão carregadas de beleza e escreveste um conto mágico. Conserva sempre esta magia...é um dom poderoso.
Beijinhos

Olá!! disse...

Uma contadora de sonhos :)))
Lindo
Beijosssssssss

Maísa disse...

Menina linda, que lindo conto tão recheado de magia.
Esse conto deve ter firmes alicerces no mundo real, mas tornou-se mágico pela sua beleza.
A lia, posso ser eu ou tu.
Há momentos na vida em que precisamos soltar as amarras.
Beijinho.

Tá-se bem! disse...

É verdade, qualquer um de nós pode identificar-se com a pequena Lia, em alguma altura da nossa vida...

Beijo
Gostei muito! :)

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

continuas a produzir bem e isso é o q importa!

Anónimo disse...

Maravilhoso!
O teu futuro tem futuro...
* * *