Era ainda linha a menina, um retalho da linha dos progenitores, tinha muito que caminhar, muito que crescer e descobrir. Arranjava teorias e conceitos muito seus, dizia que a lua era também uma linha que formara um circulo perfeito, e que às vezes, triste, deixava uma parte da linha coberta de lágrimas, e que por isso, não se via bem.
A pequena dizia que as coisas poderiam todas ser feitas de linhas, desenhava meninos de linhas, sóis de linhas, porque, para si, as linhas podiam sempre ter remendos, logo, o que nos faltasse, poderíamos sempre dar um nó e acrescentar mais.
Certo dia, brincava no jardim com a sua corda, e fez um círculo. Sentou-se dentro dele e ali ficou horas. A menina olhava com ar muito espantado dali de dentro e os seus pais olhavam-na na janela e acharam estranho. Viam a menina a falar sozinha.
-O que se passa, Catarina? – Diz-lhe a mãe, com ar de espanto, quando se aproxima e vê a menina a andar aos círculos e a olhar e falar para lado nenhum.
Por instinto, a mãe tira a corda do chão, desfez o círculo da menina, e ela fica pasmada.
-Mãe?! Porque fizeste isso? Eu descobri um mundo!
-Tu estás doida?! Vai para casa, que está a anoitecer!
-Mas… - a mãe já tinha virado costas, e a pequena queria muito contar-lhe aquilo que via dentro daquele círculo.
No dia seguinte, recebia a visita da avó Linha. Era assim que ela lhe chamava, era a avó que lhe ensinava tudo sobre as pessoas que eram feitas de linhas. Mas a avó já era círculo. Já era tão sabida, que retalho de linha nenhuma lhe podia ser atado.
-Avó Linha, sabias, a corda que me deste é mágica!
-Pequenina, a corda é um mundo, se lhe deres um nó e a colocares num círculo. Fizeste-o, não foi?
-Sim… E conheci uma fadinha pequena… A mãe diz que estou maluca. Mas não estou, pois não?
-Não, meu anjinho… É tudo real, mas é segredo. A magia do círculo é um segredo. Porque se alguém o torna em simples linha, ele perde a magia. Cria o círculo no teu quarto, lá é mais seguro.
E nessa noite a pequena criou o círculo, entrou nele e lá estava tudo. Lá estava o riacho, a água tão cristalina, que se notavam as linhas de que ela era formada, a relva, pequenas linhas na vertical, todas elas dançantes das linhas quase transparentes do vento que soprava.
-Olá, voltaste… - sopra-lhe uma voz fininha ao ouvido.
-Sim. E tu estás aqui… - faltavam-lhe as palavras. Era o mundo perfeito, aquele. Mas quando ela pega numa das linhas, que corriam de água, ela solta-se… Aí não era círculo. Ainda não era perfeição, no auge. Então, a menina começa dando nós. Atando tudo quanto era linha solta. E quando repara em si, puxa do pé a ponta de uma linha. E nota, que no cabelo, outra linha solta. Puxa-as de modo a que se tocassem, e deu o nó. Também a menina era círculo, também ela era um mundo. Um mundo de mundos circulares.
A pequena dizia que as coisas poderiam todas ser feitas de linhas, desenhava meninos de linhas, sóis de linhas, porque, para si, as linhas podiam sempre ter remendos, logo, o que nos faltasse, poderíamos sempre dar um nó e acrescentar mais.
Certo dia, brincava no jardim com a sua corda, e fez um círculo. Sentou-se dentro dele e ali ficou horas. A menina olhava com ar muito espantado dali de dentro e os seus pais olhavam-na na janela e acharam estranho. Viam a menina a falar sozinha.
-O que se passa, Catarina? – Diz-lhe a mãe, com ar de espanto, quando se aproxima e vê a menina a andar aos círculos e a olhar e falar para lado nenhum.
Por instinto, a mãe tira a corda do chão, desfez o círculo da menina, e ela fica pasmada.
-Mãe?! Porque fizeste isso? Eu descobri um mundo!
-Tu estás doida?! Vai para casa, que está a anoitecer!
-Mas… - a mãe já tinha virado costas, e a pequena queria muito contar-lhe aquilo que via dentro daquele círculo.
No dia seguinte, recebia a visita da avó Linha. Era assim que ela lhe chamava, era a avó que lhe ensinava tudo sobre as pessoas que eram feitas de linhas. Mas a avó já era círculo. Já era tão sabida, que retalho de linha nenhuma lhe podia ser atado.
-Avó Linha, sabias, a corda que me deste é mágica!
-Pequenina, a corda é um mundo, se lhe deres um nó e a colocares num círculo. Fizeste-o, não foi?
-Sim… E conheci uma fadinha pequena… A mãe diz que estou maluca. Mas não estou, pois não?
-Não, meu anjinho… É tudo real, mas é segredo. A magia do círculo é um segredo. Porque se alguém o torna em simples linha, ele perde a magia. Cria o círculo no teu quarto, lá é mais seguro.
E nessa noite a pequena criou o círculo, entrou nele e lá estava tudo. Lá estava o riacho, a água tão cristalina, que se notavam as linhas de que ela era formada, a relva, pequenas linhas na vertical, todas elas dançantes das linhas quase transparentes do vento que soprava.
-Olá, voltaste… - sopra-lhe uma voz fininha ao ouvido.
-Sim. E tu estás aqui… - faltavam-lhe as palavras. Era o mundo perfeito, aquele. Mas quando ela pega numa das linhas, que corriam de água, ela solta-se… Aí não era círculo. Ainda não era perfeição, no auge. Então, a menina começa dando nós. Atando tudo quanto era linha solta. E quando repara em si, puxa do pé a ponta de uma linha. E nota, que no cabelo, outra linha solta. Puxa-as de modo a que se tocassem, e deu o nó. Também a menina era círculo, também ela era um mundo. Um mundo de mundos circulares.
14 comentários:
Cheguei agora ao teu espaço e fiquei impressionado.
Escreves muito bem. Tens ritmo, vida, luz.
Vou ficar aqui sentado a olhar para este teu "cantinho"
tens mesmo muito talento para contos.. :)
Menina, estou estupefacta com a tua escrita, incrivel...Agora não podes parar, assumiste uma responsabilidade, e como a assumiste...
Quero acreditar, que nasceste para o conto, conto infantil.
Menina, estou maravilhada.
Beijinho (deixa-me ser a tua fã nº 1) e apresentar os teus contos, fazendo um post com um link a este blog, posso?
vim aqui parar e por aqui permaneci embevecida e dominada por uma magia de linhas, círculos e cores.
Fantástico. Adorei os contos.
Parabéns.
:-))))))))
Beijinho.
Menina linda:)))).
Reconheço esta bonita escrita que confesso gostar muito mais.
De novo, parabéns.
Gostei muito! Mesmo muito! Vim através da Coragem e voltarei.. :)
Beijo e Continua
Vim aqui ler-te porque a coragem parece gostar muito de ti, e se ela gosta eu vim, mas sabes...Passei a gostar também.
Escreves tãooooo bem! Parabéns!
Beijinho
Que mais posso eu dizer?...
Voltarei, :))
Como e chama à expressão da sensibilidade?..Será Arte?..(parabens!)
Vim aqui ter através da coragem. Tens um dom especial: sabes escrever como a maior dos adultos não sabem ... escreves os sentimentos de uma forma bela.
Beijinhos
Sónia, gostaria muito que continuasse a deliciar-nos com os seus contos, são de facto muito bonitos. A coragem apostou em si e com razão.
Deixo-lhe um beijo de parabéns e continue sempre em frente
:)
(mais um...)
O resto já sabes...
Bjito!
Menina, vamos lá embora com o projecto para a frente.
Beijinho, fico à espera.
Escreve o livro rápido para a toninha contar aos meninos dela lá no Infantário :)))
Beijos
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